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Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski

quinta-feira, 19 de março de 2020

Sinopse: Numa iluminada noite de primavera, à beira do rio Fontanka, um jove msonhador se depara com uma linda mulher, que chora. São Petersburgo está mergulhada em mais uma de suas noites brancas, fenômeno que as faz parecerem tão claras quanto os dias e que confere à cidade a atmosfera onírica ideal para o encontro entre essas duas almas perdidas. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos, mas algo vem atrapalhar o desenrolar romântico deste fugaz encontro. Publicada em 1848, esta história faz parte do ciclo de obras que Dostoiévski (1821-1881) criou após amargar uma forte desilusão amorosa e é a última escrita antes da prisão e do período de exílio na Sibéria.

★★★★★/5

Em meio a tantas loucuras em que estamos vivendo com isso de COVID-19, uma quase terceira guerra mundial e várias outras coisas que nos acometem no dia-a-dia, tenho mais convicção ainda de que os livros são a salvação para quem não pode ir à guerra e tem que ficar em casa.

Estou bem receosa de ir até mesmo ali fora de casa, na pracinha do apartamento. Não sou de sair, mas agora está bem mais difícil. Enfim, vamos lá para a indicação de livro do dia.

Noites Brancas é o segundo livro que leio do Dostoiévski e vou te falar uma coisa, é bem complicado, mas no final a história é tão linda e triste que vale a pena esforçar o cérebro um pouco mais.

Noites Brancas é uma obra incrível que nos remete aos dias em São Petesburgo, na Rússia. Não que eu já tenha estado lá, mas sei que às vezes as noites são tão claras que parece que ainda é dia.

Neste cenário temos ainda um alguém, o narrador, o qual nunca saberemos o seu nome, porém percebemos que se trata de alguém isolado dos demais, que não costuma ter amigos e é bem na sua.

Meditando sobre senhores caprichosos e irritados, não pude impedir-me de recordar a minha própria conduta — irrepreensível, aliás — ao longo de todo esse dia. Logo pela manhã, fora atormentado por um profundo e singular aborrecimento. Subitamente afigurou-se-me que estava só, abandonado por todos, que toda a gente se afastava de mim. Seria lógico, na verdade, que perguntasse a mim mesmo: mas quem é, afinal, «toda a gente»? Na realidade, embora viva há oito anos em Sampetersburgo, quase não consegui estabelecer relações com outras pessoas. Mas que necessidade tenho eu de relações? Conheço já todo Sampetersburgo e foi talvez por isso que me pareceu que toda a gente me abandonava, quando todo o Sampetersburgo se ergueu e bruscamente partiu para o campo. Fui tmado pelo receio de me encontrar só e durante três dias inteiros errei pela cidade mergulhado numa profunda melancolia, sem nada compreender do que se passava comigo.

Os livros do Dostoiévski, pelo que li num geral, ele é um cara de muitas palavras. Um diálogo leva basicamente três páginas, coisa simples, porém ele aloga bem as conversas.

Etretanto, confesso que em Noites Brancasnada disso me incomodou. Ao contrário, senti um vazio enorme depois de finalizar a leitura. É realmente algo lindo de ler e vale muito a pena.

"Estabeleci laços quase de amizade com um velhinho que todos os dias encontro, sempre à mesma hora, na Fontanka 2 . Tem uma expressão muito grave e pensativa e sussurra permanentemente, falando consigo mesmo, agitando a mão esquerda enquanto com a direita segura uma longa e nodosa bengala com um castão de ouro. Ele próprio me reconhece, dedicando-me um cordial interesse. Se, por qualquer eventualidade, eu não aparecesse à hora do costume nesse tal sitio habitual na Fontanka, tenho a certeza de que teria um acesso de melancolia."

Como diz na sinopse do próprio livro, Noites Brancas foi escrito após uma grande desilusão amorosa, então acredito que por esse motivo ele colocou todos os sentimentos ali e poderia até dizer que, pelo final da história, é a história do próprio Dostoiévski. O narrador não tem nome, ele se apaixona por Nástienhka e  no final... bom, o final é triste.

A pobrezinha estava de tal modo emocionada que conseguiu terminar; apoiou a cabeça no meu ombro, depois sobre o meu peito, e chorou amargamente. Eu consolava-a, encorajava-a, mas nada lhe conseguia deter a mágoa; continuava a apertar-me a mão e dizia por entre os soluços: «Espere, espere. Vai ver, isto vai parar já! Quero dizer-lhe... não que estas lágrimas... não, elas vêm-me assim, é da franqueza espere que isto passe... » Finalmente, parou de chorar, limpe as lágrimas, e recomeçamos a caminhar. Eu queria falar, ela, ainda durante muito tempo, continuou a pedir-me esperasse. Calamo-nos... Por fim, reuniu toda a sua coragem começou a falar.

Eu realmente adorei esse livro, eu amo a escrita do Dostoiévski, acho tudo muito poético e se você acha que por ser um escritor clássico e russo você não vai conseguir, acredite, vai seim. Eu também achei que não conseguiria ler Crime e Castigo. Se eu consegui, você também consegue.

Livro: Noites Brancas
Autor: Fiódor Dostoiévski
Editora: Editora 34
Gênero: Romance
Clube do Livro da Milca