Com a corda no pescoço - André Nigri

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Com a corda no pescoço André Nigri
 

Sinopse: Por que fazemos escolhas que sabemos não ser as melhores? Por que parecemos aquilo que não somos? O poeta alemão Heinrich Heine cunhou o termo maskenfreiheit, intraduzível no português, que sugere a liberdade conferida pela máscara. E o narrador das quatro histórias deste livro é um eu disfarçado, à escuta. 

Quem fala são as mulheres, e as poucas intervenções masculinas não passam de ruminações de perplexidade diante do fascínio exercido por elas. 

Helena é casada com um homem obcecado pelo herói e mártir traído da liberdade nacional. Sua vida conjugal é entediante até ela se envolver com um colega. A professora de balé carrega as dores de um passado quase glorioso e do relacionamento com o filho de um conhecido líder comunista do país quando integrava o corpo de baile de um famoso balé russo. Mariana é uma jornalista às voltas com o assédio do chefe e dois casamentos fracassados. Maria deixa seu marido em casa para se jogar numa aventura imprevisível à beira-mar com um homem que ela mal conhece. 

Em comum, elas revelam-se presas de armadilhas emocionais, confusões amorosas e as contradições de seus desejos. Com senso de humor e domínio de deslocamentos e ressonâncias temporais, André Nigri interroga, na ficção de enredos tão imprevisíveis quanto a falta de sentido da vida, disfarces e insinuações. 

Nada é inteiramente nomeado, como se o autor convidasse o leitor para decifrar os segredos por trás das intrincadas relações. O que essas ficções propõem é um jogo amoroso, onde as peças sobre o tabuleiro são volúveis e sorrateiras. À menor desatenção, uma delas pode escapar.


★★★★/5


Recebi o livro "Com a corda no pescoço" do escritor mineiro André Nigri faz algum tempo e, devido a vários perrengues, não consegui escrever sobre ele antes. Não significa que eu não tenha gostado. Muito pelo contrário.


Já falei algumas vezes aqui, no meu outro blog e em redes sociais o quanto amo ler contos. Sim, me da uma felicidade imensa quando leio contos e crônicas. O sentimento de ler "Com a corda no pescoço" foi intenso. 


André Nigri traz quatro contos com personagens interessantes e profundos. Quatro mulheres aparentemente comuns e que vivem triângulos amorosos. Os diálogos são marcantes e, talvez, sejam a característica maior do livro. É impossível ler e não sentir o peso das falas dos personagens.


Sendo meu primeiro contato com a escrita de André Nigri, não sou capaz de compará-lo, porém é um livro cativante e nos faz refletir a cerca de nossos relacionamentos, mesmo que não tenhamos triângulos amorosos em nossas vidas.


O primeiro conto, que leva o nome do livro, nos apresenta Helena. O conto é narrado por Antônio Vilela e fala sobre como uma mulher em um casamento monótono se envolve com um colega de trabalho. Neste conto, algo interessante é que o marido de Helena é aficionado por um certo herói na história que teve sua cabeça cortada fora. Sem citar nomes, sabemos de quem se trata e isso acaba por ser importante para o desenrolar do conto.


"Mas não vale a pena colocar suas fichas em mim. E não por me achar autoconfiante, mas justamente pelo contrário. Por ser tão simplória e convencional que qualquer expectativa depositada em mim despencaria tão logo a gente se beijasse."

 

Li e reli esta fala de Helena e confesso que refleti bastante por ler algo que se encaixa tão bem a mim mesma. Mas com tanta diferença.


O conto "Na ponta dos pés" é uma longa história. Não nesse sentido que você está pensando, mas no sentido de trazer memórias de Francesca para os dias atuais, de modo que a afetam ainda de alguma maneira. Bailarina por muitos anos, leva consigo não só as dores físicas. 


Gosto quando o autor me dá a oportunidade de conhecer o passado de seus personagens. Você entende quem eles são no momento em que estão e de onde vieram, quais sentimentos carregam consigo e como eles afetam seus relacionamentos. Ao fim do conto, você compreende o motivo pelo qual Francesca gostaria de esquecer seu passado.


"Tentar, tentar, ainda que seja na ponta dos pés."


Relacionamentos em geral são delicados, eu sei. Mas por quê as pessoas tomam algumas decisões que parecem certas, mas que lhes confunde a cabeça? E como saber qual escolha é a correta?


Em "Se não fosse a lua" você tem uma mulher que vive um casamento desgastado e que decide viajar com um homem que mal conhece. Quantos sentimentos e emoções uma mulher vive em questão de minutos? O marido quer um filho; a esposa não quer. Seria egoísmo das duas partes? Vai saber!


O conto segue intercalando entre a situação de Maria e a situação de Paulo, entramos nas vivências de ambos e vemos como, enfim, embarcam em voos diferentes rumo ao mesmo destino. 


"Se não se pode voltar, ela pensa, então se é obrigado a ir. Mas ir para onde? Até quando?"


Como o próprio narrador personagem fala: dois amantes que carregam sobre eles a sombra de dois ex-maridos dela, Mariana. No quarto e último conto, vamos ler sobre machismo, misoginia e relacionamentos abusivos.

 

Não com todos os detalhes, mas detalhes o suficiente para compreender as dores e sentimentos confusos de Mariana. Felipe é quem narra essa história e, mesmo sabendo como Mariana se sente em relação a ele, ele segue a amando. O conto se chama "O tocador de triângulo".


Sempre que leio relatos reais ou não sobre homens abusando física e psicologicamente de mulheres, eu me sinto muito mal. Será que algumas mulheres já nascem para se relacionarem com homens ruins? Voltamos à questão das escolhas? São coisas que ao final do livro você pensa mesmo sobre.


Talvez eu nunca entenda os relacionamentos das pessoas. Não cabe a mim. Mas tento sempre pensar como seria que fosse eu naquele lugar.


Com a corda no pescoço é um livro que, depois de terminar a leitura, você nota o quanto é um nome sugestivo. Gostei muito da construção feita pelo autor e como as coisas se encaixam perfeitamente. 


É uma leitura que flui. Não precisa forçar para gostar. Além de mexer com tudo em você. Ri, senti raiva, me encantei e, agora, o recomendo a quem gosta de leitura profundas.


Com a corda no pescoço foi uma indicação da Oasys Cultural, grande parceira do blog. Certamente é uma obra riquíssima em vários sentidos.


Autor: André Nigri 

Páginas: 128 

Editora: Reformatório 

Ano: 2020 


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3 comentários

  1. Querida Milca, dá para sentir que você submergiu na leitura, e se transformou com ela. Dizem que "a arte transforma". Então, o livro do André Nigri é uma obra de arte mesmo. Obrigada pela leitura e pela caprichada resenha. Grande beijo,

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  2. Tenho curtido ler muitos contos também, já fiquei interessada na obra do autor.

    Blog Karolini Barbara |Instagram Karolini Barbara

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